Há um som que não se ouve com os ouvidos e que faz o olhar tombar.
É um som que se recolhe entre silêncios,
feito maré mansa,
feito tempo que para — só pra lembrar que existe.
Não era uma palavra, nem um nome, nem um pedido.
Era só um “mmm” baixo, enrolado em suspiro,
como se o mundo inteiro coubesse ali,
na dobra de um abraço onde a cabeça pousa e os olhos desistem de lutar.
Tenho saudade desse murmúrio.
Saudade do som que vinha depois do toque,
do corpo que cedia não por fraqueza, mas por paz.
Do instante em que o peito virava abrigo
e o som que escapava não queria ser entendido — só sentido.
Era um som de estar.
De estar junto.
De estar dentro do tempo do outro.
De se encaixar no compasso da respiração alheia.
No murmúrio, lia promessas que nunca foram ditas, mas estavam todas ali.
Hoje o mundo fala alto demais.
Às vezes, na fresta entre um sonho e outro,
eu ainda ouço aquele murmúrio baixo de satisfação,
vindo de um tempo onde para ouvir o mar
era só encostar a cabeça no peito de alguém e descansar inteiro.