Mo meio da pista. Entre graves, luzes e corpos em trânsito, atravessado por uma revelação que não coube mais em silêncio. A pista de dança virou solo sagrado, templo do agora, altar dos meus processos. O corpo, ao mover, abrindo frestas de memória, escorrendo liquefeitas palavras, cores, sons, corpos inteiros.
Sozinho, cercado, percebi que era rito. Um ritual de passagem. Ali, a dança e o tempo se dissolvem no som, cada batida me empurrando mais fundo na escuta de mim mesmo.
A correria, a intensidade, os ditos e não ditos, a revelação. O fim. Os dias que se seguiram. Intermináveis. Silênciosos. Não sabia o que fazer, não havia nada a fazer. Um fim do mundo a cada dia da semana.
A volta se imaginando salvadora, a correria pra lá. Quase sem escrúpulos. Louca. Sem propósito. Desesperada. Porta fechada. Vá embora. Não olhe pra trás. Vou embora. Mas deixo a fresta da porta aberta e fico tentando respirar o ar que circulava antes.
No fim, me jogo na pista. Expresso, atento, na pista. Fiado à esperança. Não sei que tipo de processo é esse, mas das coisas que amava: as cores quentes. Acho que posso encerrar com essa lembrança. As cores quentes.
Porque no fim, ainda que ninguém leia mais nada, sigo escrevendo. No silêncio das entrelinhas. O corpo na pista e a alma no pretérito, sem parar, pago com o movimento incessante.
Nenhum comentário:
Postar um comentário