Ato I - Prólogo em cólera menor
Vamos exercitar um negócio aqui: seria cólera criativa o oposto complementar do ócio corrosivo? Não sei, mas tem duas luas cheias em que o sentimento está transbordando em letras, palavras, frases, parágrafos, ora versos, ora cantados, ora poético, ora apenas descritivo, ora direto, ora subjetivo, ora escondido, ora muito revelado, ora querendo dizer, ora apenas querendo ser escutado.
Ato II - Lar, ou a cena do encurralado
Encurralado onde deveria ser lar.
Ainda vejo cores quentes, vermelho, rubro, mas também negro, opaco.
Dá pra ouvir o sorriso de uma criança e, ao mesmo tempo, ecos de um passado distante e velho.
Quase carcomido mas que ainda guardo com carinho. Não sei por que não me desfiz ainda dessas lembranças, desses registros... Físicos. No início era pra mostrar para a pessoa que partiu o que eu ainda guardava. Depois, se transformou mais ou menos numa prece, numa reverberação, uma tentativa de reverberação no tempo e no espaço daquelas lembranças, daquelas memórias, daqueles acontecimentos. Como se esse gesto-ritual, fosse fazer acontecer de novo.
Ato III - A memória encena o medo
Depois, talvez tenha sido o medo.
O medo de esquecer o cheiro, o som, os gestos, os dias divididos, as memórias boas e ruins, os planos concretizados e abortados. Medo de esquecer e pelo esquecimento, essas memórias, essas lembranças se tornassem menos reais, menos verdadeiras. Porque a pessoa com quem você viveu essas... Essas aventuras, não está mais do seu lado pra dizer "bote fé, foi desse jeito. E digo mais!".
Ato IV - Epílogo da caixa de lembranças
Não vai dizer mais nada. Não vai mais dizer nada, vai só deixar um vázio mudo, sem som, nem cheiro. Só fotografias coladas numa caixa aos poucos sendo desgastada pelo tempo. Maio, Junho, Janeiro, Fevereiro. Os meses abençoados vão se sucedendo. E o que resta é a honra, a missão de honrar e de manter vivo tudo que passou. Com amor, carinho, saudade, com vida vivida e com vida para se viver. Enquanto houver vida. É isso.
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