o que você vai dizer quando eu disser que não acredito em uma só palavra?— que te ofereço tudo que tenho: palavra e gesto. o resto é silêncio e tempo.e quando eu disser que seu amor é de plástico?— estarei aqui, com as mãos cheias de silêncio, oferecendo minha própria carne.se não vale o esforço nem o choro?— talvez não valha mesmo. mas ainda assim, me pego chorando, me pegando no esforço. não sei até quando, mas sei que, enquanto for, é real.se não há nada que me prenda aqui?— eu sei, e ainda bem. se você ficar, que seja também por liberdade.se eu te disser que tu não consegue mais me afetar?— que seja porque a ferida virou cicatriz. e não porque não se importa mais.se quem perdeu foi você?— tô me reconstruindo com os cacos que sobraram. e até eles brilham.pra que se torturar?— só enquanto for verdade.
"Ócio significa não fazer nada, e vem do latim otiu. Ócio representa, por exemplo, uma folga, um momento de contemplação, um descanso despropositado." Nesses raros momentos de abstração as ideias brotam de uma forma linda, inusitada, mas também, às vezes, destruidora, corrosiva.
segunda-feira, 25 de agosto de 2025
por todos os poros possíveis
domingo, 24 de agosto de 2025
risco, pele e cicatriz
pensei nisso pela história de medusa. não a vilã, mas a vítima. uma figura nascida da violação, da dor, da injustiça e da sobrevivência. ela não escolheu o monstro. foi evocada por mãos cruéis, pelo destino torcido, pelo olhar do outro. medusa é o personagem que irrompe quando a ferida não encontra cura. fatal, inevitável, sobrevivente.
já foi. já a encarei nos olhos, já petrifiquei. agora só me resta o trabalho lento de me esculpir de volta. lascar as pedras, despir as camadas de granito, expor a pele frágil, os riscos, as cicatrizes. talvez o que reste seja menos estátua e mais humano. talvez a gente seja sempre isso: um eterno petrificar-se e reencarnar novamente.
horizonte de eventos
passei dias esperando o sopro úmido das tuas palavras,
cada notícia tua era alívio, alegria,
eu te amo — e isso me basta.
foi linda nossa história.
corri atrás daquilo em que acreditava,
isso me basta.
mesmo doendo, é lindo.
o mais lindo que já brilhou,
sei que você cansou de lutar.
não corro mais atrás da inocência;
não fujo mais da tua sentença.
aceito o fim inevitável,
sinto muito não ter sido porto quando você precisava ancorar.
desculpe a paz que lhe roubei,
suporto a vida como um momento além do cais,
me dói o peso do que construímos e não soube sustentar.
mas te prometo: não repito os mesmos naufrágios.
nem com você, nem com ninguém, nem comigo.
não era festa, era ritual,
banal, errado. eu sei.
e agora o que resta é essa lucidez tardia,
eu te amo pra caralho.
mesmo no fim, não consigo não dizer isso.
esperarei algum ruído teu,
to imaginando letras pra tu seguir viva nessa prosa.
mas é isso. o fim é assim, abrupto, numa quinta-feira à noite.
sábado, 23 de agosto de 2025
nas bordas da catástrofe
fechando ciclos, abrindo espaço para uma nova era.
domingo, 17 de agosto de 2025
organizar nossa luta pra gozar nossa vitória
e ao mesmo tempo, começo uma entrega:
coloco meu mundo nas tuas mãos.
minha vulnerabilidade, meu desejo mais profundo.
instrumento que pode me fazer feliz ou me ferir.
sei do tempo que leva pra reconstruir
o cristal da confiança que despedacei.
pedaço por pedaço, vou juntando cacos,
criando algo novo. um vitral de cores que a gente nunca viu antes.
é arriscado. é perigoso. é iminente.
mas é também verdade.
e por isso me jogo com coragem,
honra e dignidade.
te agradeço por me dar essa chance.
com entrega, estratégia e amor.
organizar nossa luta pra gozar nossa vitória.
e eu quero gozar com você.
felicidade e tesão transbordam,
vibrando de uma cabeça à outra,
corrente elétrica de prazer e criação.
eu quero gozar com você.
sexta-feira, 15 de agosto de 2025
para quando o sol voltar: respostas, evidências e flores
quanto às flores, arrisquei alguns palpites:
segunda-feira, 11 de agosto de 2025
A beira de um atropelamento
domingo, 10 de agosto de 2025
Ficar embora
E caminhei descalço.
Busquei além do razoável.
Aproximei-me quando a distância já era sentença.
Não consegui fazer diferente, mesmo quando o diferente era a única chance.
Se pudesse apagar, apagava.
Se pudesse ir embora, ia.
Mas, por enquanto, ainda se senta no meu peito como se fosse sua poltrona.
A conta-gotas
Tempestade perfeita dentro de um filtro de barro.
Às vezes entra ventania, sai melancolia.
Entra intenso, sai silêncio.
Sobras de breu sob o sol
quinta-feira, 7 de agosto de 2025
Lá maior com nona
Progressão para o paraíso com fins de registro, aprendizado e ressonância em lá maior com nona. Bem bonito, sabe? Profundo, pra dentro, intenso e ao mesmo tempo pleno.
A jornada é longa, o processo é lento. Mas olha, é massa, visse? Não deixa de olhar pela janela do ônibus, na moral mesmo. Começa do começo, né? Antes de começar. Na preparação, no sonho, no plano, no fenômeno. Antes de virar acontecimento, acontece na mente, em mil modelos, nenhum preditivo. Um bom plano é orgânico, estabelece alguns horizontes e se abre em todas as direções e dimensões.
Depois, se vence a cidade. Ela te puxa a cada curva, a cada possibilidade de retorno ela te chama. Mas você sabe seu propósito. Você segue pro porto. Não para ficar no cais, mas pra cruzar a baía. Pra ilha. Sem deixar de fantasiar. Mas à ilha dos acontecimentos. À ilha que se repete.
Peço força a todos os ancestrais para trilhar as curvas da vida e não sobrar em nenhuma. Nem me perder em nenhuma dobra. Porque o caminho é longo e o processo é lento. Mas com constância mecânica, repetição como mantra e transe orgânica a gente chega. Vem aí. Agora a gente chega.
A chegança é surreal. A vida se desabroxa de outro jeito, feito um sonho. Ou será que essa é a vida real? O que vale a pena tá aqui. Tudo. De um mel branco fermentado a água doce mais límpida.
Aqui, o tempo espreguiça. O sol abraça. O corpo lembra da dança. As frutas são mais doces, o riso mais largo, o mar mais íntimo. Tudo flui numa linguagem mais suave. E o que antes era peso vira pólen. Aqui bate mais forte. Bio-psico-social.
Mas assim, o paraíso não é isento, tá? Não foi feito pra te salvar de ti mesmo. Aliás, não foi feito. Tá aí só. E tu atravessa com tu inteiro. Teus morangos, mas também teus fantasmas, e o sumo de ambos na boca. É um convite pra olhar o todo, o inteiro.
E então a ilha fica, mas a gente parte. Ou será o contrário? O mar se abre de novo, a cidade reaparece no horizonte. Mas agora é diferente. O paraíso não é um lugar, mas o jeito que o corpo habita o tempo e espaço. A gente não foge de si. Todo lugar que eu ia eu tava lá. E ali, nesse encontro, mora o paraíso. Ou o inferno. Depende do dia. Bio-psico-social.
Como se fosse flor
Ficava longe da vila. Longe tipo cinco quilômetros. Ou seja: ou pedalando sob o sol de minha deusa ou dependendo da carona da boa vontade alheia. A vila era massa. Gente do mundo todo. As praias, uma extensão do céu. Mas o principal é que era na vila que as coisas funcionavam até tarde e tal: mercadinho, farmácia e tudo mais. Onde a gente tava não.
Bonito, ancestral, vintage-sertanejo e, lentíssimo. Muito lento.
Eis que o universo abre caminhos.
O jantar foi ótimo. Pizza artesanal, massa de não sei o quê, molho que lembrava infância. Conversa massa, rimos até do vento. Chapadas, a gente ria de qualquer coisa — principalmente do namorado dela, que falava como se tivesse vindo de outro plano dimensional. Era cada frase enigmática, uma obra de arte involuntária.
Mas eis que…
A gente sequelou de encher as garrafas.
Passou o tempo, passou a pizza, passou o riso… passou a oportunidade.
Quando a gente percebeu, já tava todo mundo se recolhendo, apagando as velas, dizendo "boa noite" com voz de mantra e nos conduzindo para o adeus.
Aí veio o golpe de ousadia:
A pia da cozinha era bem na janela, o filtro do lado.
Uma janela baixa, virada pra frente da casa, bem ali no nosso caminho de saída.
Você lembra, né?
Num ato de pura insanidade e sede ancestral, estendi o braço pela janela como quem colhe uma fruta proibida no jardim do Éden. Abri o filtro num clique cirúrgico. A água jorrou. Enchi a primeira garrafa. Quase sem respirar. Coração disparado. Você me esperava na rua rindo ansiosamente em silêncio com a mão na boca.
Tava enchendo a segunda, só que aí...
Um som vindo do quarto. Um rangido. Uma luz acendendo. Uma respiração suspeita.
Fechei o filtro na pressa. E saí correndo o mais silenciosamente possível, parecia cinema mudo misturado com explosões de um filme de ação comercial. Saímos correndo feito crianças que roubaram doce — ou adultas que furtaram água.
A gente ria do grotesco, do absurdo e do mais absoluto banal. Ria como quem ri do fim do mundo. Gritava "vai, vai, vai!", tropeçando no mato. Desesperadas. Libertadas. Hidratadas.
A câmera.
Sim.
A câmera de segurança, meu amigo!
Apontada direto pra janela da cozinha.
Filmando tudo.
Cada segundo.
A missão inteira.
Em Full HD.
terça-feira, 5 de agosto de 2025
Caótico lúcido
só que de repente, fui pra outra coisa completamente aleatória, percebi quando já estava fundo n'outro fluxo.