fermento por dentro.
microvidas conspiram em revoluções silenciosas,
nas minhas entranhas dançam assembleias invisíveis.
sou campo de cultivo,
mangue de transformação bioquímica,
um ecossistema em revolta doce e lenta.
comitê revolucionário visceral.
a digestão não é só quebra de moléculas,
é decomposição cultural.
cada célula epitelial do intestino
carrega mais decisão que qualquer algoritmo de vigilância.
sou permeável.
engulo o mundo, deixo ele me atravessar,
tecnologias entéricas que selecionam o que fica,
o que vira energia,
o que se dissolve em nada.
o intestino é meu segundo cérebro,
mais antigo, mais esperto.
ele não julga, só sente.
enquanto o cérebro pensa em palavras,
o intestino pensa em ácidos,
materna bactérias,
cultiva futuros possíveis,
engole o tempo e devolve vivo.
decompor estruturas rígidas,
dissolver categorias,
transformar o cru em algo digerível.
ser saudável, hoje,
é suportar ser invadido,
permitir que nos mastiguem,
nos processem,
nos integrem.
sou, sobretudo, poroso.
e se há um futuro,
ele começa no estômago,
onde o tempo não é cronológico,
mas químico,
um calendário de enzimas
marcando a história na língua.
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