quinta-feira, 2 de outubro de 2025

sonho crateroso

cortaram minhas asas
rastejei por semanas e meses
até que, aos poucos
elas nasceram outra vez
fendas dando lugar a um colorido novo

quando arrisquei os primeiros voos
vieram de novo com a faca velada
eu sabia do risco
era mais arriscado que um rasante no desconhecido 
mas fui por devaneio entorpecente 

vi minhas penas arrancadas uma a uma 
num gesto cotidiano 
dessa vez cortaram só uma asa
restando a outra deficiente 

recolhi cada pena
por devoção delirante 
remendei como pude
e me joguei no ar 

agora caio em parafuso 
perdi os pontos cardeais 
só um ponto suspenso, sem ligação 
não traça linha, nem indica direção 

espero ansioso pelo impacto 
temo que já tenha acontecido 
e que o parafuso esteja
apertado demais
e minha cabeça em parafuso
enterrada demais

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