cortaram minhas asas
rastejei por semanas e meses
até que, aos poucos
elas nasceram outra vez
fendas dando lugar a um colorido novo
quando arrisquei os primeiros voos
vieram de novo com a faca velada
eu sabia do risco
era mais arriscado que um rasante no desconhecido
mas fui por devaneio entorpecente
vi minhas penas arrancadas uma a uma
num gesto cotidiano
dessa vez cortaram só uma asa
restando a outra deficiente
recolhi cada pena
por devoção delirante
remendei como pude
e me joguei no ar
agora caio em parafuso
perdi os pontos cardeais
só um ponto suspenso, sem ligação
não traça linha, nem indica direção
espero ansioso pelo impacto
temo que já tenha acontecido
e que o parafuso esteja
apertado demais
e minha cabeça em parafuso
enterrada demais
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