foi mal, por mesmísse comi seu coração.
não era fome.
era só um reflexo meu em você
e eu tenho essa mania de comer o que me reflete.
então é isso.
essa chance já foi.
ficou no tempo que eu não alcancei.
deixa mal resolvido mesmo.
vou fazer o que, né?
se tirar a faca pode morrer de hemorragia.
sonhei com cobra.
cobra em sonho é culpa, assim soube.
mas eu quis acreditar que era desejo. foda-se.
mate a culpa, salve o desejo,
fazendo simpatia, reza e feitiço.
a cobra veio.
cobrar o preço da culpa.
mas eu não temi.
nem fugi.
olhei nos olhos dela e reconheci:
sim, é minha.
me morde. pode matar.
painho me alertou.
gritou de longe como quem ainda quer salvar o que sobrou.
matou a cobra, jogou no rio,
mas ela permaneceu viva em mim,
mesmo que as águas a tenham levado.
porque entre a ideia e a prática
mora uma contradição.
e nela eu moro também.
confia no tempo.
mas o tempo não tem casa fixa.
ora é remédio, ora é veneno.
ora cura, ora repete.
e tem dias que o tempo só observa, calado,
enquanto a gente se engole por dentro.
então deixa mal resolvido mesmo.
às vezes o que não resolve,
revela.
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