segunda-feira, 4 de agosto de 2025

Deixa mal resolvido mesmo

foi mal, por mesmísse comi seu coração.
não era fome.
era só um reflexo meu em você
e eu tenho essa mania de comer o que me reflete.

então é isso.
essa chance já foi.
ficou no tempo que eu não alcancei.

deixa mal resolvido mesmo.
vou fazer o que, né?
se tirar a faca pode morrer de hemorragia.

sonhei com cobra.
cobra em sonho é culpa, assim soube.
mas eu quis acreditar que era desejo. foda-se.

mate a culpa, salve o desejo,
fazendo simpatia, reza e feitiço.

a cobra veio.
cobrar o preço da culpa.
mas eu não temi.
nem fugi.
olhei nos olhos dela e reconheci:
sim, é minha.
me morde. pode matar.

painho me alertou.
gritou de longe como quem ainda quer salvar o que sobrou.
matou a cobra, jogou no rio,
mas ela permaneceu viva em mim,
mesmo que as águas a tenham levado.

porque entre a ideia e a prática
mora uma contradição.
e nela eu moro também.

confia no tempo.
mas o tempo não tem casa fixa.
ora é remédio, ora é veneno.
ora cura, ora repete.
e tem dias que o tempo só observa, calado,
enquanto a gente se engole por dentro.

então deixa mal resolvido mesmo.
às vezes o que não resolve,
revela.



Nenhum comentário:

Postar um comentário