às vezes penso que vivemos isso de lugares tão distintos que algumas conversas foram por caminhos tortos, ecos tentando atravessar o abismo. o que eu digo já chega quebrado, o que você responde já vem com atraso. mesmo assim insisto. pego cada pergunta que ficou suspensa no ar e vou colocando uma ao lado da outra, fazendo um mosaico de cuidado, afeto e arte:
o que você vai dizer quando eu disser que não acredito em uma só palavra?— que te ofereço tudo que tenho: palavra e gesto. o resto é silêncio e tempo.e quando eu disser que seu amor é de plástico?— estarei aqui, com as mãos cheias de silêncio, oferecendo minha própria carne.se não vale o esforço nem o choro?— talvez não valha mesmo. mas ainda assim, me pego chorando, me pegando no esforço. não sei até quando, mas sei que, enquanto for, é real.se não há nada que me prenda aqui?— eu sei, e ainda bem. se você ficar, que seja também por liberdade.se eu te disser que tu não consegue mais me afetar?— que seja porque a ferida virou cicatriz. e não porque não se importa mais.se quem perdeu foi você?— tô me reconstruindo com os cacos que sobraram. e até eles brilham.pra que se torturar?— só enquanto for verdade.
até no abismo existe eco, e o eco é sempre uma tentativa de encontro. talvez nunca falemos a mesma língua, talvez nossas traduções sejam falhas e tardias, mas ainda assim há beleza nesse esforço de atravessar. se não chegarmos um ao outro, ao menos teremos chegado mais perto de nós mesmos. por todos os poros possíveis.
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