domingo, 10 de agosto de 2025

Sobras de breu sob o sol

A vontade de te encontrar extrapola tudo e quase não sobra nada. Quando percebo que sobrou alguma coisa eu vou lá e como na mesma hora.

Digerindo pensamentos dramáticos e dirigindo cenas de ação pra no final só restar alguns caracteres digitados. Letras que formam frases e dão vazão a alguma coisa. Quase não sobra nada.

É impressionante como nosso olhar não se encontra mais, mesmo quando a gente cruza a centímetros de distância. O calor foi embora e o frio também. O som não existe mais nem o silêncio. Quase não sobra nada.

Toco minha sinfonia para ninguém. Escrevo meus versos para um fantasma. Permaneço no mesmo lugar esperando algo que não vem. Alguém que não existe. Custa acreditar que já existiu, mas não existe mais. Quase não sobra nada.

O véu da noite na abóbada celeste vem caminhando a passos curtos mas constantes. O degradê do pôr do sol vai ficando quase monocromático, ainda cinza, azul e algo de branco. Mas o breu vem. Quase não sobra nada.

Não adianta correr em qualquer direção que seja. Já testei todas, mas meu sol tá nascendo e se pondo em outro lugar. Um lugar inalcançável. Quase não sobra nada.

Sobra uma saudade. Sobra uma casa. Sobra uma cidade inteira. Algumas palavras perdidas, inaudíveis, não ditas, desacompanhadas. Quase não.

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