domingo, 24 de agosto de 2025

horizonte de eventos

obrigado por tudo.
passei dias esperando o sopro úmido das tuas palavras,
feito chuva no deserto.
cada notícia tua era alívio, alegria,
um corpo respirando de novo dentro do meu.
eu te amo — e isso me basta.
foi linda nossa história.
manhãs acesas, silêncios cúmplices, olhos que se buscavam.

te admiro como se admira um relâmpago.
beleza e perigo no mesmo instante.
corri atrás daquilo em que acreditava,
falei cada verdade que me incendiava.
isso me basta.
mesmo doendo, é lindo.
o mais lindo que já brilhou,
mesmo queimando as mãos.
a maior criação que já fiz,
esse fogo que ainda arde nas bordas do infinito.

sei que você cansou de lutar.
não corro mais atrás da inocência;
ninguém de fato o é.
não fujo mais da tua sentença.
aceito o fim inevitável,
a morte explosiva de uma supernova.

sinto muito não ter sido porto quando você precisava ancorar.
desculpe a paz que lhe roubei,
e o futuro esperado que não dei.
suporto a vida como um momento além do cais,
assistindo o eterno movimento dos barcos.

me dói o peso do que construímos e não soube sustentar.
mas te prometo: não repito os mesmos naufrágios.
nem com você, nem com ninguém, nem comigo.

vivi meses no maior transe da minha vida,
um hiperfoco sem fuga.
acordei e adormeci com teu nome aceso em minha cabeça.
não era festa, era ritual,
busca desesperada pelo teu rastro.
banal, errado. eu sei.
e agora o que resta é essa lucidez tardia,
que cintila como fogo-fátuo.

eu te amo pra caralho.
mesmo no fim, não consigo não dizer isso.
esperarei algum ruído teu,
até que o silêncio devore a esperança e reste apenas o ar limpo.
e fotografias guardadas numa caixa velha.

to tentando não acabar esse texto.
talvez o último momento conectado mesmo que tão distante.
to imaginando letras pra tu seguir viva nessa prosa.
mas é isso. o fim é assim, abrupto, numa quinta-feira à noite.

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