quarta-feira, 18 de junho de 2025

atmosfera do abraço

to me vendo passando na cozinha, sem propósito. era uma rua estreita e sem saída, só tinha uma janelinha pra circular o ar. aquela meia luz de sempre: amarela, calma, quente.

era pra ficar mais perto dela. tipo a dança dos planetas em torno do sol. tem uma atração gravitacional que puxa. pra perto, pra dentro, pro fundo e pro alto.

três letras que não posso mais juntar. só de brincadeira agora. tipo, como se ninguém tivesse percebendo o óbvio, o ululante. como se eu mesmo não quisesse apontar exatamente o parágrafo, a frase, a palavra e as três letras. e fingir que era pretérito imperfeito. e dizer "massa, né?". ou não?

ela lá fazendo alguma alquimia. o olhar focado, as mãos habilidosas, o pé direito apoaido na coxa esquerda. passei atrás, alguma conversa onde a gente testava os limites da razão, o que a gente acreditava, moldava, encaixava, criava. passei por atração, fiquei por decisão. e parei bem atrás.

o tempo, então, parou também. a cozinha evaporou. era só pele, cheiro e o som quase elétrico da presença. a respiração parecia uma corrente de ar vindo de longe. isso tudo vendo de olhos fechados — não, estavam abertos, em todos os ângulos, flutuando. ficou confuso, mas era certo. eu que quase sempre paro tudo pra te ver passar, tava parado bem atrás de você. te abracei, casa em carne viva, nossos corpos buscando um ao outro. te sussurei algo que mudou tudo. quero morar em você.

Nenhum comentário:

Postar um comentário