terça-feira, 14 de outubro de 2025

estética do inacabamento

a mais bela surgiu
ardendo em cores quentes
como de costume

as ladeiras eram labirintos
e cada pedra guardava
a memória de outros passos
outras histórias
retratos fantasmas

havia uma única presença
fio tênue que segurava o mundo
delicada âncora
entre o delírio e a performance

em algum lugar
da misericórdia até a fé
um sobrado antigo
onde as paredes sussuravam
o murmúrio de séculos

ali o tempo estancou
depois se lançou impetuoso
em todas as direções
inundando expectativas

do vórtice surgiu uma sombra
desenhada às pressas
uma ameaça
afastei-a uma, duas
incontáveis vezes

era a própria insistência
o corpo voltava
sempre renascido do vazio
quanto mais eu a derrubava
mais se reerguia
um espectro condenado a repetir

antes de tudo se dissolver
percebi
não há vitória possível
só a certeza
de que nada está resolvido

do caos ainda nasce
alguma forma de beleza
o eterno retorno para canto nenhum
deixa mal resolvido mesmo

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