quinta-feira, 25 de setembro de 2025

abismado

uma jornada interminável
gravada para sempre no cerebelo
quando tudo passa, você se dá conta
que mal olhou pela janela

segurando as pontas
equilibrando pratos
todo dia impedindo a catástrofe
que teima ser inevitável

as armas foram erguidas
as chaves, segredos abriram
as lentes fizeram convergir luz e sombra
nada neutro, nada sem culpa

todos os caminhos culminaram neste altar
soturno, gélido e mudo
muito sentir obstrui a razão
muita razão calcifica o sentir
por amor, não quero troca

encontrei-a deitada sobre o altar
imóvel, fria, sem vida
veneno derramando dos lábios
nas mãos, um frasco com meu nome
ainda cheio de morte líquida

poderia ter ficado de vigília
velado o corpo com a honra de quem espera
mas a dor foi maior do que o sinal
e fechei a porta do meu próprio corpo

morri duas vezes
a primeira, em silêncio, olhei o abismo
morte morrida
a segunda, um eco, o abismo me devolveu o olhar
morte matada

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