o amor é um fio de ventríloquo,
teia cósmica,
teia cósmica,
tecendo linhas que me puxam os dedos,
que me inclinam o rosto,
que ditam palavras que não reconhecia antes.
feito dobra de sangue,
eu me entreguei inteiro,
sem saber se era devoção ou feitiço.
o amor é também um fio de navalha.
caminhei no meinho,
um pé depois do outro,
equilibrando-me entre o tudo e o nada,
entre o beijo e o abismo.
mas tropecei para dentro
achando que era nos teus braços,
descobrindo tarde demais que eram teus pés.
por um fio,
quase acreditei na promessa de amar e ser amado.
agora resta o mangue, fértil e úmido,
cheio de criaturas que se alimentam dos restos do sonho.
cada raiz submersa guarda uma memória,
cada caranguejo cava o silêncio onde me escondo.
um chié corta o ar,
anunciando a maré que se aproxima.
não sei se ele chama a maré,
ou se a maré o chama.
sei apenas que ambos respondem,
como se o amor fosse sempre isso,
um eco de algo maior,
que nunca sabemos se nos pertence
ou se apenas nos atravessa.
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