Hoje não resta mais ninguém a não ser a ausência.
Cabelo, sorriso, olhos, nariz, jóias anodizadas, braços, riscos, pernas, barriga, corpo inteiro ausente. Presente nos pensamentos, rastro cromático, performance delirante. Fecho os olhos e sinto... Na verdade, não sinto mais teu cheiro. Tô tentando lembrar, mas não consigo mais. Escuto tua voz em ecos eletrônicos. Mas não a reconheço, essa voz nunca mais falou comigo. Vejo teu rosto piscando na tela. Mas a carne viva tá se perdendo.
O amor tava lá. Talvez mais silêncio do que palavra, mais gesto desajeitado do que coreografado. Talvez só tenha se revelado inteiro quando já era ausência. Malfeito, não dito, mal falado. Mas era amor. Era amor pra caralho. Tava lá. Gravado com tempo, tensão e energia. Anodizado.
Depois da partida o amor que tava malfeito, não dito e mal falado, transbordou, gritou e explodiu. Boom. Eu tava com a granada nas mãos. Dilaceradas tentando reunir os cacos. Tentando segurar um corpo com outro corpo inteiro. Mas é impossível segurar qualquer coisa. Nem o pensamento. Apesar de no momento bem sucedido, mesmo meus pensamentos insistentes falharão.
Meu livre-arbítrio falhará. Vai chegar o dia. E eu estarei lá. Refeito. Um tipo novo de inteiro, reprogramado depois do colapso. Ainda pisca na retina, às vezes. Anodizado em excesso. Agora a liga tá se soltando. O brilho metálico virou fosco. A superfície descasca em tons opacos. A cor viva que pulsava como interface de vida virou um erro de programação.
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