segunda-feira, 13 de outubro de 2025

resolução ascendente lunar venusiana

não adianta
ideias são à prova de bala
sentimentos à prova de razão

o que você procura
não está atrás 
tá à frente
ou acima

o céu mexe com a gente
e ela ainda mexe comigo

você é o que você repete
rotina que te reza
luz no horizonte
o sol voltou

ascendente em escorpião
dança em volta do fogo
lambe o próprio veneno
se afoga de prazer sob as águas
e na terra se esconde

lua em capricórnio
lança luz sobre a selva
vigia o caos com olhos de pedra
precisa dormir pra não sentir demais
pequenos rituais seguram a mente na carne

vênus em libra
derrama teu amor como ácido
me fere, me risca, me queima
me fode e depois some
tu sabe que já me dominou
o céu fechou novamente

eu já vou me levantar
pra mim não tá tudo bem
mas eu consigo viver sem
eu já to me levantando

ainda te espero
no mesmo banco de praça
na hora que o saguim vem conversar
e os pássaros cantam teu nome

eu queria tanto viver contigo
o meu futuro
e na encruzilhada
onde deixei letras e tu, cristais

será que já floresceu no deserto?

domingo, 12 de outubro de 2025

último trago antes do silêncio

delírio, refúgio, ficção

luto pelo que ainda está vivo
mas já virou fantasma

construindo uma fantasia na cabeça
porque a realidade não dá conta
daquilo que inventei pra ela

não sei mais aproveitar
as pessoas que me amam
não consigo atravessar o vidro
entre o gesto e o toque

o que sinto falta não existe mais
então sigo em frente
mas pra onde?

como é que não fuma?
inversamente proporcional
à intensidade do sonhar
tenebrosa sensação
no fim

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

caos cromático

vidro quebrado não cola
quando não há o que fazer, você chora
talvez não seja nesta vida
mas você ainda vai ser minha vida

ora ora ora
se não são as consequências
das minhas próprias escolhas
mas carai, até quando, hein?

que horas o sol volta?
rodeado de pedras
na janela gradeada
posso sair pela porta da frente
a dos fundos não tem nem tranca

mas tem outra coisa me segurando
tô sentindo indo embora
mas porra, tá demorando
amarelo e vermelho, cadê o verde?

quando um num quer dois num ama
a razão não tá dando resposta
ou tá desligada
só resta confiar no invisível extraordinário

caminho das águas

tô escrevendo pra deixar pra trás
e com unhas e dentes
tô deixando pra frente
vaivém das marés

aceito a derrota
desisto dessa demanda que me afunda
me permito seguir sem desculpas

amor ancestral
toda lua cheia ainda lembra teu rosto
pálido, distante, refletido na água

que nossos caminhos se abram
como um maceió entre ondas
que o que foi nó se dissolva em sal

que a gente encontre amor
e que esse amor nos encontre de volta
nas pequenas ressacas, nos breves silêncios
que a felicidade seja corrente

vela acesa no coração e a lua cheia no céu
que ambas nos guiem
nos refaçam
nos reconciliem com o que fomos e o que ainda podemos ser

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

a vida tá acontecendo

eu também não vejo mais  
que merda, véi  
não consigo mais nem imaginar
ficou muito distante

eu vi chegar faz tempo  
vi, nomeei, olhei de frente e arrisquei
vi o abismo e dei um passo à frente
se eu pular, você pula? kkk  
tá bom, né  

caí sozinho, de cara no chão  
levantei e tropecei numa raiz
me enlaçou no tornozelo
me puxou de volta
tô com a cara enterrada de novo 

perdi o sentido das coisas
cima, baixo, frente, atrás
passado, futuro, presente
tudo gira igual

então fico aqui nesse jardim
tentando fazer o máximo do mínimo  
mantendo o corpo em rotação
pelo menos
pra não parar de girar a manivela

mantra psicotrópico ao anjo do delírio

santo anjo do torpor
cura o que não tem nome
meu delírio guardador
acalma o que pulsa e me consome

me visita à meia-luz febril
desamarra a carne
destranca o sonho
arranca esse espinho

se a mim te confiou a saudade como sina
faz dela jardim colorido
com amor e verdade
sempre me transforme
mesmo que ainda sem rosto

com honra e dignidade
me devolve o sopro
mesmo louco

me refaz
me alucine
e, quando nada restar
me desgoverne

amém

terça-feira, 7 de outubro de 2025

cortinas de fumaça

queria ter chegado mais cedo
ido embora mais tarde
te dado minha chave
e pedido pra tu ficar
queria ter ido embora contigo
ou talvez não ter ido embora

queria ter pra onde voltar
ter dito que te amava quando era verdade
ter te ouvido antes
ter te tido depois

queria ter sabido desde o princípio
que o ensaio não se repete

o não-voo

faz mais de um mês que carrego uma dor no trapézio direito
dizem que é estresse e ansiedade
mas parece que cortaram na carne

onde antes era asa, agora há um ponto de tensão
um nó cego
a lembrança do voo ainda latejante

já fiz de tudo pra parar de sentir
alongamento, yoga, compressa quente, compressa fria
massagem, ventosa
nada consegue desamarrar

num esforço desesperado acendi uma vela de sete dias
e deixei um bilhetinho embaixo
um pedido, uma oração, um suspiro

no início queimou tímida mas constante
nos últimos dias estava deformada
desfigurada, obedecendo outro sentido
não se via mais vela nem farol

a chama inclinava-se sobre o bilhete
roendo-o com paciência escassa
quando a cera derreteu por completo
o papel incendiou, a vela virou fogueira doce
e o ar cheirava a promessa queimada

precisei apagar por segurança
agora resta a cera derretida sobre cinzas
chão queimado e o eco do que foi dito

as palavras, antes pedidas
viraram fumaça preta no ar
e talvez tenham sido ouvidas



revolução da arte

cheguei em casa à milhão!
quase que eu não conversava contigo

e olhe que eu achava que seria não só necessário como fundamental
que se não fosse dessa forma
não seria de nenhuma outra

fiz menção de iniciar uma conversa contigo umas três vezes, bota fé?
e tá ligado que seria um papo super merda, né?
uma coisa tão alienante e exploratória quanto um checklist
eu ia pura e simplesmente lhe usar
esse era o fundamento

mas vê como as coisas são
eu fui repetindo uma ideia fixa na cabeça
que era inicialmente um dos itens da lista que eu não escrevi
eu repetia pra não esquecer
que nem um mantra
enquanto fazia outras coisas que estavam no caminho

descascar a banana
bater a vitamina
botar roupa pra lavar
fazer chá, etc

a todo momento eu fazia aquela última coisa
antes de sentar pra escrever
e, sem perceber
era isso que eu já estava fazendo

Marília

gosto profundamente desse nome
me veio imediatamente duas pessoas
não conheço nenhuma delas

uma parecia ser uma grande amiga
da minha mais querida professora
a mestra, como ela a chamava

a outra é tão distante que nem sei
mas é linda e isso me basta
lealdade, sabedoria e beleza
especialmente de alma
e ela certamente tem

vai dar certo
eu quero, eu posso, eu confio
eu vou

Fronteiras do ser

nem lá, nem cá
ele se esforça, é um bom sujeito
mas ainda não chegou lá
(nem está verdadeiramente cá)

está no meio do tiroteio
na linha do tiro
pronto pra morrer
vivendo no limite

quando pensa que tá chegando lá
é quando se sente mais preso
mais estagnado, mais retrógrado
é chato ser careta, não quero

ainda tem umas roupinhas pra estender
se tem um aprendizado
é que movimento gera movimento
e o contrário é lamentavelmente verdadeiro

então pelo menos
mantenha-se dançando no fio da navalha
nas fronteiras do ser
siga sendo

a morte, o diabo, o enforcado, a torre e o louco

[a morte]
to vindo aqui porque já não sei mais para onde ir
fui deitar cedo, pelo menos o sono ainda era refúgio
hoje não

[o diabo]
habitar esse corpo ta sendo custoso demais
oscila entre a esperança vã
e a agonia desmedida

[o enforcado]
dói em todos os lugares
uma dor específica, íntima, inventada
ver virar outra coisa
irreconhecível
em tão pouco tempo


[a torre]
tudo tão volátil
borbulhando, efervescendo, em erupção
a luz apagando, quase sem energia
a mente ainda ligada
a ventoinha não para de girar
o motor superaquecido


[o louco]
preciso urgentemente de uma oficina
preferencialmente do diabo
pois queria minha mente vazia

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

sonho crateroso

cortaram minhas asas
rastejei por semanas e meses
até que, aos poucos
elas nasceram outra vez
fendas dando lugar a um colorido novo

quando arrisquei os primeiros voos
vieram de novo com a faca velada
eu sabia do risco
era mais arriscado que um rasante no desconhecido 
mas fui por devaneio entorpecente 

vi minhas penas arrancadas uma a uma 
num gesto cotidiano 
dessa vez cortaram só uma asa
restando a outra deficiente 

recolhi cada pena
por devoção delirante 
remendei como pude
e me joguei no ar 

agora caio em parafuso 
perdi os pontos cardeais 
só um ponto suspenso, sem ligação 
não traça linha, nem indica direção 

espero ansioso pelo impacto 
temo que já tenha acontecido 
e que o parafuso esteja
apertado demais
e minha cabeça em parafuso
enterrada demais

terça-feira, 30 de setembro de 2025

espiritualidade pragmática #2

eu lia mais do que escrevia
esperando o mundo falar primeiro
e só depois arriscar a própria voz

coincidência
truque de apagar a autoria dos acontecimentos
como se o acaso fosse inocente
e não apenas um véu
sobre a mão invisível das escolhas

a gente se encontrou
porque andava na mesma direção
os passos, por instantes
tinham o mesmo compasso
mas depois, como rios caudalosos
tomamos margens distintas
e a distância se fez correnteza

escolho o acaso e invento o destino
me conecto pela fala
testo, roço, atravesso
até encontrar confluência
quando encontro
arrodeio o território familiar
e celebro a diferença
como quem transforma fratura em fractal
divergência em diversidade

no fim, é preciso saber a hora parar de escrever
ainda sigo lendo
nos olhos, nas pausas
nos silêncios que também são texto

até breve

tem uma rainha-sereia em itamaracá
dançando entre a despedida e o encontro
canta que toda partida é promessa
quero morar contigo entre as carmelitas
ter uma cria de sóis e girassóis
viver entre o amaro branco e o rio doce
fazendo oferenda no pontal de maria farinha
onde as águas se confundem
doce se torna sal, sal vira reza
o movimento é eterno

ontem é cicatriz,
amanhã, um mistério escondido no mangue
e o hoje, chama breve
arde em nossas mãos como oferenda

o nome dela é o mais bonito do sistema solar

fui atravessado pelo meu bem
punhal no meio do peito
coração que virou bainha
segurei pela empunhadura
e enterrei mais fundo
me afogando no rio vermelho

a dor se fez centro do universo
não há como sair são e salvo
o mais grave é que o sol insiste em nascer
a visão do paraíso num mundo distante

o mais grave é que tudo foi legítimo
houve justiça em cada gesto
sem teatro, sem disfarce
o ressentimento não será fuga
a lâmina não apagou a chama
arde mesmo sem combustível

o amor, a verdade e o sentir
seguem sendo o único caminho
mesmo que queimem como fogo
mesmo que iluminem até a cegueira

ainda bem
hoje está chovendo copiosamente

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

não se perder nos sinais

é preciso estar atento e forte
atento e presente
atento e consciente
não deixar escapar os sinais
mas não se perder neles

lembrar a importancia dos rituais
das pausas, do ócio, do silêncio
a vida acontece entre uma coisa e outra
o espetáculo é o clímax
mas o processo é a vida

ritual marca o compasso da existência
ancora no real, abre portais
é tecnologia ancestral
transmuta, cria e conecta
abre caminhos

reneguemos a máquina que nos devora o tempo
produção sem pele e sem alma
desarticulada de propósito
é o único jeito de não se perder nos sinais
eles estão aí e tem um monte de coisa pra dizer

desacelera, apaga a lâmpada
respira, acende uma vela
silencia, cuida da carne que veste
ama, mesmo que o amor não volte
pois cada gesto é passagem
e cada passagem é renascimento

domingo, 28 de setembro de 2025

manifesto sináptico insurgente

toda revolução é impossível
até que se torne inevitável
feito rio que um dia está seco
mas no outro vira cachoeira

às vezes penso que cada sinapse
é uma tentativa de insurreição
um clarão breve que ilumina as curvas da vida
antes que a escuridão retome seu posto
e lembre do coração estilhaçado

não espero pelo futuro
nem aguardo resposta divina
esperançar é um trabalho ativo
uma artesania dos afetos que nos atravessam
junto os cacos de amor e verdade
até que formem um vitral colorido

honra e dignidade perdidas
se recuperam no corpo que teima em continuar
pelas cicatrizes que se tornam caminhos
na ferida que
 encarada de frente
abre passagem para a cura

sou um revolucionário com as veias abertas
já deixei meu sangue escorrer abundante
agora é preciso renovar o fluxo
não vazar, mas transbordar em direção ao mar

pedestal é prisão, controle e disfarce
por isso te tirei daí
pra que possamos olhar um ao outro
sem medo de cair de tão alto
na igualdade da terra molhada
na lama fértil do que somos

não culpar quem nos feriu
mas olhar o que sangra em nós
tocar com os dedos sujos de vida
a cicatriz ainda aberta
e ali encontrar a chave
para o recomeço

eu quero ficar
e fazer revolução com você

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

gangorra

uma noite fria, serenava
num pequeno parque de diversões
com uma gangorra solitária
sob a luz branca, fria
do poste de um jardim gramado e úmido

entre abacateiro, pitangueiras, coqueiros
um coro vegetal murmurando segredos pra quem quer ouvir

três cadeiras, lado a lado
sentei-me no centro
trouxe a da direita para frente
nela apoiei os pés

então, veio uma névoa já conhecida
densa, suspensa, quase sólida
se acumulou em camadas

quando dissipou, olhei à esquerda
a cadeira vazia ao meu lado
me pesava mais que o próprio corpo

à quase mil quilômetros
estava ali, ausente
o ar imóvel
e o frio da noite



quinta-feira, 25 de setembro de 2025

alquimia da chacota

dentre as coisas que me formaram
como gente e como bicho
aquilo que mais amo
é o ensimesmamento caricato-performático,
essa encenação de si mesmo
que a gente assume com solenidade lúdica

o pernambucano, sobretudo o recifense
ama florear suas próprias raizes
e nisso há grande valor
é parte do que nos faz grandes

a crença é tecnologia de ponta
pra que o improvável aconteça
o que começa em chacota
a gente transforma em realidade
deixa de ser brincadeira
pra virar brincante

qualquer coisa de fora
é apenas o reflexo da nossa coisa neles
tudo é em função da gente
como tem que ser

isso não diminui o outro
é só sinceridade
desde o primeiro momento
somos nossa própria referência
a gente convida o outro a conhecer
e se apresentar profundamente

o mangue é tudo isso
um amálgama orgânico, alquímico
capaz de vida
capaz de parir mundos da lama
onde tudo se mistura
transforma chacota em mito
e mito em realidade cotidiana
a gente se encontra lá

abismado

uma jornada interminável
gravada para sempre no cerebelo
quando tudo passa, você se dá conta
que mal olhou pela janela

segurando as pontas
equilibrando pratos
todo dia impedindo a catástrofe
que teima ser inevitável

as armas foram erguidas
as chaves, segredos abriram
as lentes fizeram convergir luz e sombra
nada neutro, nada sem culpa

todos os caminhos culminaram neste altar
soturno, gélido e mudo
muito sentir obstrui a razão
muita razão calcifica o sentir
por amor, não quero troca

encontrei-a deitada sobre o altar
imóvel, fria, sem vida
veneno derramando dos lábios
nas mãos, um frasco com meu nome
ainda cheio de morte líquida

poderia ter ficado de vigília
velado o corpo com a honra de quem espera
mas a dor foi maior do que o sinal
e fechei a porta do meu próprio corpo

morri duas vezes
a primeira, em silêncio, olhei o abismo
morte morrida
a segunda, um eco, o abismo me devolveu o olhar
morte matada

terça-feira, 23 de setembro de 2025

epicentro das linhas sísmicas

não peço retorno
que minha presença me baste
se for pra ser, que seja estrela
e não eco

que venha a cura
em forma de incêndio ou rio
que venha o amor
loucura que bagunça o juízo
que venha a felicidade
mesmo que doa sua chegada

o universo silencia
e dentro de mim, o murmúrio persiste
há linhas de destino que tremem
há vontades que se desdobram
há escolhas que ardem no peito
brasas quietas, escondidas

me escolhe, acaso
ou me condena à liberdade
me protege, acaso
ou me deixa nu

eu também sei cuidar
mesmo com mãos ensanguentadas
sei ofertar presença
mesmo na ausência
sei acender lampejos
pra adiar o fim

se for pra ser, será
se não for, libera

pois há uma fenda no tempo
onde a vontade é soberana
onde o desejo escreve em fogo

que assim seja

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

kombucha, fumaça e mágoas para acordar

são três da manhã
estávamos surpreedentemente juntos
uma fissura se abriu no espaço-tempo
e despertei do teu lado

pisquei o olho
te toquei de leve
tu tava quente
de leve
reagiu ao meu toque
fui lavar o rosto
pra ter certeza

quando voltei
não só era verdade
como tu tava acordada
mas logo a fissura se fechou
tu tava aqui
mas eu já não tava presente

trezentos minutos intermináveis depois
a luz atravessava as cortinas
nossos olhos pesados
cansaço que prende o peito

eu só queria ser teu
tu queria só
não lembro mais
depois de tanta querência
tu foi embora

abri uma kombucha
amarga que acalma
acendi um cigarro
doce que acabrunha
chorei minhas pitangas
esse suco precisa de açúcar

domingo, 21 de setembro de 2025

o paradoxo da ruína

põe ordem no caos
mas se afasta do real
a razão acontece na mente
o real vibra no corpo

erguem-se pilares da razão
diante deles
em um ato de fé
é preciso ceder
ao murmúrio dos sentidos
à vertigem do instante
ao que se esconde nas frestas
da racionalidade

pilares pra sustentar
e ter onde pisar 
mas não lamentar
ao caminhar sobre ruínas
aprender a trilhar
entre abismos

mergulhar em cada buraco
descer aos cantos mais íntimos
despindo peça por peça
até que o medo se dissolva
e do corpo surja
um poder secreto
ardendo como verdade

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

sangria dourada

durante quase um ano
por todos os poros
tu me fez curar
metade de uma vida

ainda quero acreditar que é
mas quero ainda mais acreditar
que, se for pra ser, será

no horizonte
um brilho intenso
tudo alvo, tudo em excesso
ver demais também é
uma forma de cegueira
transe hipnótico
lisérgico, catártico

o encontro de midas e medusa
pode ser breve, fatal
mas também pode reinventar o sentido
recompor a cerâmica quebrada
soldar com fogo as rachaduras

e nas frestas do que partiu
o ouro escorre cintilando
revelando a beleza da falha
ferida que transmuta em mapa
caminho pra outra vida nascer

que seja inteiro, mesmo partido
que brilhe, mesmo pelas cicatrizes
é no que se quebra
que o infinito encontra forma
e nos devolve ao tempo
renovados, fragmentados, inteiros

terça-feira, 16 de setembro de 2025

diamantes, lágrimas e rostos para lapidar, sublimar e revelar, respectivamente

todo dia vai ser uma tortura
até que não seja mais.

hoje de manhã acordei
e durei dois instantes.
limpos,
feito diamante.
sem pensar em tu.

envolto num sonho qualquer,
um lugar estrangeiro de sentido.
na investigação, lembrei.
tu não tá mais aqui.
lá estava o tópico, imóvel, insistente.

o hiperfoco voltou.
saudade montando guarda.
tristeza sentinela.
parece que só é digno sofrer.

ontem notei que não chorava tua partida;
ensaiava a expressão no rosto.
dor, insatisfação, desconforto.
proibido trocar a máscara da tragédia.
mas não havia lágrimas.
não havia mais nada.
secou.

quando menos esperei,
meu rosto foi torcido, rasgado
e me pus a chorar no meio da rua.
baixei a cabeça
todo esse pranto também não seria digno.
não restava nada que parecesse digno.
fiquei no limbo.
meu mundo não existe mais.

um dia talvez
acorde
e dure mais que dois instantes.
um dia
descansarei o rosto e os olhos,
e a dor será lição e não território.
por agora, ainda exploro o terreno
e decoro mapas na mente.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

tem mas tá em falta

desliguei todos os estímulos
queria ficar só na minha presença
e mais uma vez
a inquietação

"é pra fazer o que agora?"

ponho um caderno na minha frente "escrever?"

recuso de início,
percorro com os olhos as bordas do quarto
baseado aceso entre os lábios

já risquei tantas tarefas da lista
mas nada me atravessa como vitória
tudo em suspenso

olho de novo
reconheço o entorno
cada objeto devolvendo seu contorno

mas tá faltando
tem mas tá em falta
escorreu entre os dedos da minha mão
água que foi feita pra fluir

virou traços, palavras, rabiscos
gritos abafados em folha verde
e tons pastéis que escondem excessos
tentativas tímidas de fé

"escrever e acreditar"

qué, fí

fermento por dentro.
microvidas conspiram em revoluções silenciosas,
nas minhas entranhas dançam assembleias invisíveis.
sou campo de cultivo,
mangue de transformação bioquímica,
um ecossistema em revolta doce e lenta.
comitê revolucionário visceral.

a digestão não é só quebra de moléculas,
é decomposição cultural.
cada célula epitelial do intestino
carrega mais decisão que qualquer algoritmo de vigilância.
sou permeável.
engulo o mundo, deixo ele me atravessar,
tecnologias entéricas que selecionam o que fica,
o que vira energia,
o que se dissolve em nada.

o intestino é meu segundo cérebro,
mais antigo, mais esperto.
ele não julga, só sente.
enquanto o cérebro pensa em palavras,
o intestino pensa em ácidos,
materna bactérias,
cultiva futuros possíveis,
engole o tempo e devolve vivo.

decompor estruturas rígidas,
dissolver categorias,
transformar o cru em algo digerível.
ser saudável, hoje,
é suportar ser invadido,
permitir que nos mastiguem,
nos processem,
nos integrem.
sou, sobretudo, poroso.

e se há um futuro,
ele começa no estômago,
onde o tempo não é cronológico,
mas químico,
um calendário de enzimas
marcando a história na língua.

sol em câncer

o amor é um fio de ventríloquo,
teia cósmica,
tecendo linhas que me puxam os dedos,
que me inclinam o rosto,
que ditam palavras que não reconhecia antes.
feito dobra de sangue,
eu me entreguei inteiro,
sem saber se era devoção ou feitiço.

o amor é também um fio de navalha.
caminhei no meinho,
um pé depois do outro,
equilibrando-me entre o tudo e o nada,
entre o beijo e o abismo.
mas tropecei para dentro
achando que era nos teus braços,
descobrindo tarde demais que eram teus pés.

por um fio,
quase acreditei na promessa de amar e ser amado.
agora resta o mangue, fértil e úmido,
cheio de criaturas que se alimentam dos restos do sonho.
cada raiz submersa guarda uma memória,
cada caranguejo cava o silêncio onde me escondo.

um chié corta o ar,
anunciando a maré que se aproxima.
não sei se ele chama a maré,
ou se a maré o chama.
sei apenas que ambos respondem,
como se o amor fosse sempre isso,
um eco de algo maior,
que nunca sabemos se nos pertence
ou se apenas nos atravessa.

sede da lüa

havia flores no jardim,
todas as cores possíveis,
quentes, vibrantes, quase incandescentes.

havia água adormecida nas sementes dos coqueiros,
rios inteiros escondidos em pequenas cápsulas,
escorrendo em direção ao mar,
abrindo caminhos invisíveis.

até que a lüa cheia rasgou o céu
revelando tudo que estava oculto.
a necessidade de tudo que não havia,
um cansaço antigo do ser.
a abundância virou deserto,
um esgotamento silencioso,
uma sede insaciável de paz.

em nome do amor,
as flores murcharam até virar cinza,
os coqueiros tombaram enfermos,
os rios perderam a voz,
não mais caminhos para canto nenhum.
e o mar permaneceu inalcançável,
miragem líquida no horizonte.

mas também por amor
é preciso semear de novo,
abrir sulcos na terra sedenta,
para que a água encontre passagem,
e o mar volte a ser destino,
não ilusão.

domingo, 14 de setembro de 2025

não pare

quando não souber o que fazer
corre.
se movimenta, desliza,
descola do chão que te prende,
atravessa portais invisíveis.

apaga a luz,
acende os olhos,
deixa o corpo ser guia da própria vertigem.

a cor é verde:
suco amargo de hortelã-pimenta,
adstringente que raspa a garganta
pra deixar passar.

não fica nada.
nem pensamento, nem saliva.
não serve chá:
serve grito, canto, palavra cuspida no papel.
deixa a espuma do instante acalmar.

quando sentir demais,
não procure razão pois não há.
quando a razão pesar demais,
não encontrará sentimento.

são pesos e contrapesos,
um pêndulo cego
tentando desenhar equilíbrio
num corpo que nunca para de oscilar.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

murro em ponta de faca

pancada contundente com a mão fechada
cada nó atuando como pára-choque
mas é pele, carne e ossos
entre cada dedo vãos finos
por onde a lâmina pode se encaixar sem me machucar
painho me ensinou a colocar a mão espalmada na mesa
com os dedos bem abertos
e passear a ponta afiada pelos vãos
cada vez mais rápido
até que vire espetáculo
até que deixe de ser real
acho que consigo encaixar entre os dedos sem me machucar
depende da velocidade
quanto mais rápido mais imprevisível
a certeza na verdade é que não vai dar certo
mas eu me jogo mesmo assim
sempre fui inconsequente, teimoso ou determinado
depende se tu gosta de mim
mas eu gosto de tu
e aí sou isso tudo ao mesmo tempo
se der errado, deu
vai assim mesmo
levanto pra cair de novo
aprendi isso também
a gente espera o certo e lida com o errado
vai assim mesmo
o importante é não deixar de ir
mesmo sabendo que a mão pode sangrar
vir

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Umbigado

hoje demorei pra dormir,
negociando com a ansiedade em parcelas que não cabem no peito,
tentando remediar o vazio com listas de tarefas
que não se cumprem.

será que ler acalma?
ou escrever pra deixar escorrer a dor pelas letras?
talvez um chá de camomila, ou mulungu,
talvez fumar um chá,
ou deitar em posição de lótus
e inventar uma respiração capaz de se presentear.
lavar o rosto, fechar os olhos,
convencer o corpo a descansar.
mas não há resposta certa.
para o que não há remédio remediado está.

tô sentindo saudade dela.
tô sentindo falta dela.
tô sentindo ela indo embora.

indo.
no gerúndio.
flagrante da ação em curso,
um verbo que não se resolve,
que não chega ao ponto final.

aqui, agora, do meu lado,
ausência presente.
indo.
embora.

indo
embora,
não demora
a virar coisa rara.

o mundo foi com ela.

talvez seja porque
eu beijei o seu umbigo,
e nesse gesto mínimo
abriu-se uma fenda,
sem atalho
talhou meu coração.

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Desaniversário

quero que o dia acabe.
cada passo é só movimento sem alma,
matéria sem energia.

quero que a semana passe,
que o fim de semana também se dissolva
antes mesmo de começar.
os sonhos viraram poeira.

quero que os meses abençoados
me atravessem sem piedade,
queimar calendário após calendário
até que as estações percam o nome.
não sei mais diferenciar o frio da espera
do calor da esperança.

quero que o ano acabe.
meu aniversário já não tem data,
não há velas, nem bolo, nem voz alguma.
não há o que comemorar.

havia sentimento, isso ainda sei.
mas futuro?
não.
apenas um vazio iluminado,
onde o tempo se arrasta em sombra líquida.
tento decifrar se sobreviver
é esperança ou ilusão.

domingo, 7 de setembro de 2025

espiritualidade pragmática

disseco causas e efeitos
abrindo o corpo folheando páginas

mergulho em traumas e performances delirantes
com ferramentas que não são bisturis

procuro a fenda onde a armadura começa,
onde o ciborgue se refaz e se reproduz,
versão após versão,
cada gesto gravado em código de afeto e cicatriz

é algoritmo ou pulso elétrico?

se constrói no meio do colapso,
metade ferido, metade circuito
camadas, restos, próteses invisíveis

o controle é uma ilusão
carne e código,
falha e fabulação

a vida segue seguindo

tudo que eu queria era todo dia
te acordar e te cobrir de beijos

de novo chegamos bem pertinho 
tão perto que até falei
seja bem vinda de volta

mas a primavera não veio
hoje nublou, choveu e fez frio

teu suéter ficou aqui, esquecido no cabide
ainda guarda o cheiro doce, mas não aquece
falta o teu corpo dentro

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

beco diagonal, buraco da alice ou portal de moria

a porta, enfim, se abriu. depois de meses delirantes, teatros e silêncios, finalmente uma frestinha se abriu. pequena, quase tímida, mal deixando o ar circular. no breu, um olho suspenso investigava o ambiente antes de arriscar revelar um pouco mais do corpo. a mão permaneceu firme no trinco, segurando não só a madeira, mas a própria vida. pronta para fechar de novo ao menor sinal de perigo, ao mais breve gesto que lembrasse um pretérito mais que imperfeito.

eu esperava do lado de fora, sem pressa, deixando apenas o tempo respirar por mim. não trouxe promessas fáceis nem palavras ensaiadas. mas o desejo de construir algo novo, com a calma e a inteireza que antes não sabiam de mim.

sei que a porta pode se fechar a qualquer momento, que o trinco pode estalar de novo e me devolver ao lado de fora. mas se acontecer, não partirei vazio. levo comigo o compromisso de fazer tudo o que não fiz antes, ainda que sem garantia de retorno.

eu lia nas entrelinhas, nas linhas, no rodapé e nas notas escritas à mão no canto de cada página, lia medo e resistência, mas também uma vontade escondida de acreditar. porque apesar dos traumas, apesar do abismo cavado entre nós, há ainda uma verdade que pulsa; e nela se desenha um processo de cura.

a porta não se abriu inteira. apenas o suficiente para deixar passar o ar doce da primavera.

segunda-feira, 25 de agosto de 2025

por todos os poros possíveis

às vezes penso que vivemos isso de lugares tão distintos que algumas conversas foram por caminhos tortos, ecos tentando atravessar o abismo. o que eu digo já chega quebrado, o que você responde já vem com atraso. mesmo assim insisto. pego cada pergunta que ficou suspensa no ar e vou colocando uma ao lado da outra, fazendo um mosaico de cuidado, afeto e arte:

o que você vai dizer quando eu disser que não acredito em uma só palavra?
— que te ofereço tudo que tenho: palavra e gesto. o resto é silêncio e tempo.

e quando eu disser que seu amor é de plástico?
— estarei aqui, com as mãos cheias de silêncio, oferecendo minha própria carne.

se não vale o esforço nem o choro?
— talvez não valha mesmo. mas ainda assim, me pego chorando, me pegando no esforço. não sei até quando, mas sei que, enquanto for, é real.

se não há nada que me prenda aqui?
— eu sei, e ainda bem. se você ficar, que seja também por liberdade.

se eu te disser que tu não consegue mais me afetar?
— que seja porque a ferida virou cicatriz. e não porque não se importa mais.

se quem perdeu foi você?
— tô me reconstruindo com os cacos que sobraram. e até eles brilham.

pra que se torturar?
— só enquanto for verdade.

até no abismo existe eco, e o eco é sempre uma tentativa de encontro. talvez nunca falemos a mesma língua, talvez nossas traduções sejam falhas e tardias, mas ainda assim há beleza nesse esforço de atravessar. se não chegarmos um ao outro, ao menos teremos chegado mais perto de nós mesmos. por todos os poros possíveis.

domingo, 24 de agosto de 2025

risco, pele e cicatriz

a gente é também o que o mundo faz de nós. e somos ainda o que os outros permitem que sejamos. vestimos rostos diferentes para diferentes olhos. às vezes conscientemente, para sermos compreendidos, para criar identidade, para tecer conexão. mas muitas vezes inconscientemente. porque às vezes o personagem que entregamos é simplesmente o único que conseguimos sustentar. não é escolha. é herança de traumas passados, presentes e até futuros que ainda nos rondam.

pensei nisso pela história de medusa. não a vilã, mas a vítima. uma figura nascida da violação, da dor, da injustiça e da sobrevivência. ela não escolheu o monstro. foi evocada por mãos cruéis, pelo destino torcido, pelo olhar do outro. medusa é o personagem que irrompe quando a ferida não encontra cura. fatal, inevitável, sobrevivente.

já foi. já a encarei nos olhos, já petrifiquei. agora só me resta o trabalho lento de me esculpir de volta. lascar as pedras, despir as camadas de granito, expor a pele frágil, os riscos, as cicatrizes. talvez o que reste seja menos estátua e mais humano. talvez a gente seja sempre isso: um eterno petrificar-se e reencarnar novamente.

horizonte de eventos

obrigado por tudo.
passei dias esperando o sopro úmido das tuas palavras,
feito chuva no deserto.
cada notícia tua era alívio, alegria,
um corpo respirando de novo dentro do meu.
eu te amo — e isso me basta.
foi linda nossa história.
manhãs acesas, silêncios cúmplices, olhos que se buscavam.

te admiro como se admira um relâmpago.
beleza e perigo no mesmo instante.
corri atrás daquilo em que acreditava,
falei cada verdade que me incendiava.
isso me basta.
mesmo doendo, é lindo.
o mais lindo que já brilhou,
mesmo queimando as mãos.
a maior criação que já fiz,
esse fogo que ainda arde nas bordas do infinito.

sei que você cansou de lutar.
não corro mais atrás da inocência;
ninguém de fato o é.
não fujo mais da tua sentença.
aceito o fim inevitável,
a morte explosiva de uma supernova.

sinto muito não ter sido porto quando você precisava ancorar.
desculpe a paz que lhe roubei,
e o futuro esperado que não dei.
suporto a vida como um momento além do cais,
assistindo o eterno movimento dos barcos.

me dói o peso do que construímos e não soube sustentar.
mas te prometo: não repito os mesmos naufrágios.
nem com você, nem com ninguém, nem comigo.

vivi meses no maior transe da minha vida,
um hiperfoco sem fuga.
acordei e adormeci com teu nome aceso em minha cabeça.
não era festa, era ritual,
busca desesperada pelo teu rastro.
banal, errado. eu sei.
e agora o que resta é essa lucidez tardia,
que cintila como fogo-fátuo.

eu te amo pra caralho.
mesmo no fim, não consigo não dizer isso.
esperarei algum ruído teu,
até que o silêncio devore a esperança e reste apenas o ar limpo.
e fotografias guardadas numa caixa velha.

to tentando não acabar esse texto.
talvez o último momento conectado mesmo que tão distante.
to imaginando letras pra tu seguir viva nessa prosa.
mas é isso. o fim é assim, abrupto, numa quinta-feira à noite.

sábado, 23 de agosto de 2025

nas bordas da catástrofe

caiu como um meteoro, aniquilando e extinguindo todo mundo conhecido.
fechando ciclos, abrindo espaço para uma nova era.

o primeiro impacto foi catastrófico:
uma esfera de fogo atravessando o céu,
transformando um dia bonito de sol em inferno.
tudo ardendo, derretendo, incinerando
até a última gota virar combustível, até a última sombra virar luz.

o fogo do fim ardeu por dias.
gritos de terror eram levados pelo vento,
ventos fortes que mantinham a temperatura insuportável.
uma combustão perfeita, incontáveis graus celsius,
iluminando tão intensamente que cegou.

no fim, tudo endureceu.
sedimentos cobertos por cinza espessa,
camadas sobre camadas escondendo ainda o rubro da lava,
correndo em rios vermelhos sileciosos, ameaçando nova erupção.

depois do fim,
as cinzas, antes deserto, viraram húmus
e no meio da devastação, tímida,
rompeu o solo uma xanana.


domingo, 17 de agosto de 2025

organizar nossa luta pra gozar nossa vitória

tô feliz. pleno. vendo beleza no mundo.
e ao mesmo tempo, começo uma entrega:
coloco meu mundo nas tuas mãos.
minha vulnerabilidade, meu desejo mais profundo.
instrumento que pode me fazer feliz ou me ferir.

sei do tempo que leva pra reconstruir
o cristal da confiança que despedacei.
pedaço por pedaço, vou juntando cacos,
criando algo novo. um vitral de cores que a gente nunca viu antes.

é arriscado. é perigoso. é iminente.
mas é também verdade.
e por isso me jogo com coragem,
honra e dignidade.

te agradeço por me dar essa chance.
com entrega, estratégia e amor.
organizar nossa luta pra gozar nossa vitória.
e eu quero gozar com você.

felicidade e tesão transbordam,
vibrando de uma cabeça à outra,
corrente elétrica de prazer e criação.
eu quero gozar com você.

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

para quando o sol voltar: respostas, evidências e flores

sem saber as perguntas, ainda não sei que respostas cabem.
e que evidências existem além das que trago no corpo e na memória?
provas vividas na pele e testemunhos silenciosos guardados no olhar.

quanto às flores, arrisquei alguns palpites:

a primeira, óbvia, para acender, puxar, prender e soltar.

a segunda para presentear no instante presente, mas efêmera, precisa ser vivida antes que o tempo leve.

a terceira exige paciência para se abrir, mas é bela exatamente pela raridade do seu processo — leve o tempo que for.

talvez, no calor do sol e na seiva da vida, floresçam as respostas, se revelem as evidências, e se abram as flores.